amanhecer

A cidade se deita e estou acordada. Ela dorme, e continuo acordada. Ela ronca. E eu ainda acordada. Oito horas de sono, pra mim, é luxo. E nessas noites não-dormidas, comecei a me encontrar no mundo. A solidão durante a madrugada é grande e por isso dei início a um processo de autoconhecimento. Busco algo para fazer, muitas vezes opto por algo que acho chato na tentativa do sono aparecer. Mas na maioria do tempo, aproveito meu pique pra crescer o quanto posso: artistando, lendo, estudando e escrevendo. Vem também o cansaço antecipado, diante dos pensamentos sobre o dia que virá logo a seguir e não estarei com meu cérebro descansado. E depois de algumas horas, a cidade se levanta e vejo o mundo com sua vida acontecendo. Suas energias parecem estar recarregadas, enquanto me sinto um celular sem bateria. Cresço comigo, mas a cada momento que olho o relógio torço pelo meu primeiro bocejo. Ele normalmente vem quando os pássaros já estão cantando e o dia clareando. Aprendi, na marra, que a insônia não pode ser totalmente ruim. Tem dias que tenho vontade de acordar as pessoas que gosto para que elas possam admirar comigo a beleza do amanhecer. Tem dias que ouço gemidos. Tem dias que esses gemidos vêm de mim e eu fico feliz por lembrar que o orgasmo é um dos melhores remédios para me fazer dormir.