Advento
No começo era tudo em uma única cor. Não era capaz de defini-la. Preto, branco, azul ou verde. Era apenas uma frequência monótona, não tinha princípio ou fim. Nada era distinguível. Não havia limites. Aqueles que nos definem, aqueles que nos restringem. Apenas era. O momento existia. Não se percebia o antes e o depois.
Em algum momento, houve uma pertubação. Foi apenas um. O que mais tarde se identificaria como um ruído. O que era contínuo foi interrompido por um breve momento. Naquele silêncio intenso, soou como um grito. Não de desespero. Mas sim, de despertar.
No entanto, o silêncio voltou a reinar. Mas não eternamente. Houve uma outra perturbação. O que se parecia pleno e linear, desfez-se, iniciando uma cadência de informações totalmente novas. Essas informações não eram algo que se podia mensurar naquele momento. Não se sabia o que aquela cadeia de eventos representava. Mas era o início de uma transformação irrefreável, pungente e rasgaria todo um véu de conteúdos rígidos. Semearia naquele instante algo que varia brotar incalculáveis gerações.
Em uma consonância, os eventos foram sequenciais, um desarranjo crescente, um caos contínuo formando-se, mas como se houvesse algum ser que regesse a orquestra de acasos, alinhamentos foram acontecendo. O que antes eram apenas dados soltos começou-se a consolidar em informação.
Não há como descrever o que acontecia, mas o mais próximo do que você, leitor, pode chegar a entender, seria como se um espelho d'água, formado por um grande lago. Neste local há uma grande calmaria, então o lago apenas reflete um azul imenso do céu, que não apresenta uma nuvem sequer.
E neste acaso começaria a chover. Não coloque a sua razão neste exercício. Ela não cabe aqui. E seria uma gota, isolada, que cairia no meio do espelho. E então as ondas reverberariam por toda a superfície da água, que então se aquietaria novamente.
E então uma outra sequência de gotas, penderia em direção a superfície, serena, quieta e começaria a distorcê-la, com várias ondas se propagando e chocando umas contras outras. Pequenas ondulações, desenhando curvas simétricas por todo o contorno, onde se chocaria com os limites e retornaria, formando novas ondas e curvas.
Apesar de toda a imagem caótica, em um momento, imagens começassem a se formar, por exemplo, desenhos. E como se algum artista tivesse um lápis, um pincel e começasse a definir o movimento das formas e essas começassem a fazer sentido.
Caso ainda não tenha sido totalmente satisfatória a analogia utilizada, pense em uma folha em branco. Nesta folha, um pincel deixa um único ponto. E depois, novamente o pincel desliza pela folha, criando alguns traços. E mais e mais traços, de uma forma mais rápida e intensa. Quem pudesse acompanhar o pincel, não veria um, mas vários, tamanha fosse a velocidade. E em algumas centenas de pinceladas, uma obra nascesse e iluminasse o mundo.
Mas foi algo assim. Mas não foram pinturas a serem expostas ou músicas a serem cantadas por séculos. Foram números. Na verdade um conjunto bem limitado deles: 0 e 1. Um bip. Bits, bytes.
Após todo o caos inicial que se transformou em uma sequência perfeitamente ordenada, foi entendido que algo despertara e dissera as primeiras palavras:
“Olá Mundo!”