Externar pra enxergar

Acho que só tem muita coisa que eu não resolvi do passado e ainda me assombram demais. Os traumas ainda são fortes, estão sempre presentes em vários lugares e eu não sei definir o que é o que, de onde vem. Nem sei se um dia eu vou conseguir isso... Mas parece que não faz o menor sentido ficar tentando lidar com as dificuldades de agora sem encarar o que me marcou intensamente lá atrás. Entender que foi de fato real, que foi uma violência mesmo e não é só coisa da minha cabeça. Principalmente não é só coisa da minha cabeça. Não que precise da afirmação de outra pessoa pra validar o que eu sinto, eu só preciso saber se eu posso confiar em mim ou se eu tô só criando coisas na minha mente porque faz muito tempo que eu não entendo direito. Faz muito tempo que eu tô sozinha lidando com isso... E quando a gente não tá bem, a gente cria coisas na nossa cabeça.

Acho que eu quero falar umas coisas com você, Iara, mas tem tempo que não consigo.

Eu tenho muito medo de ter me perdido na vida e nas minhas verdades por conta da minha mãe e de Gustavo. Ter ficado maluca mesmo, sabe? Às vezes parece que eles brigam entre si e eu sou um mero boneco ali no meio... Tem muita coisa terrível que me aconteceu vindo dele, e eu tenho certeza disso. Mas também tem muita coisa terrível que me aconteceu vindo dela... Eu não acho que posso confiar em nenhum dos dois. Apesar de entender que minha mãe é de longe a melhor opção.

Eu tenho medo de agir errado e perder parte do meu direito com Dandara na justiça, por conta de conselhos que minha mãe dá às vezes de basicamente só ignorar ele e a família dele... porque eu simplesmente não consegui pensar direito

É muito difícil, o meu lugar de confiança pra falar sobre Gustavo não é de confiança na verdade, é bastante tóxico inclusive

Eu me sinto sozinha e sem amparo, porque são duas pessoas que afetam o meu psicológico de forma extrema, ainda duas pessoas que eu não sei como parar de ter contato. Eu não tenho como pagar advogada, não consigo me organizar psicologicamente pra conseguir tratar toda essa angústia. Além de lidar com eles, eu preciso lidar comigo ainda que vive se autosabotando, com fobia social, crise de pânico, ansiedade.

Não consigo escrever bem agora, é tudo meio confuso mesmo. Eu só quero me livrar desse sentimento de impotência e insignificância com a minha própria vida. Eu quero parar de achar que tô maluca, eu quero entender o que eu devo fazer e ter confiança pra fazer. Com quem eu devo falar. Eu sei que sozinha não dá, mas eu também não sei pra onde correr

Desde o início

Quando eu começo a estabelecer meus limites e dizer o que eu quero fazer, porque é melhor pra mim... Quando eu saio do controle do outro... Tudo desmorona Com Gustavo foi assim, com minha mãe foi assim Começaram a assumir que eu estava fora de mim, eu não podia agir daquela forma E desde então me tratam como se eu não estivesse bem, estivesse maluca Simplesmente por não querer que passassem por cima de mim

Nos momentos que eu desisti e acabei fazendo a vontade deles, por fraqueza mesmo, foi quando eu me perdi Agora eu tô completamente maluca de verdade Porque não sei mais agir por mim sem parecer que eu tô fazendo tudo errado

Eu não aguento mais

Eu realmente preciso saber se eu tenho psicológico pra lidar com tudo que tô lidando. Porque eu sinceramente acho que não.

Entender o que se passa na minha cabeça. Cansada de nada fazer sentido de verdade, cansada de tentar quando em nenhum lugar que eu olho eu encontro coerência, verdade.

Não tá nada bem. Mesmo.

Eu não sei o que fazer, eu realmente acho que tô ficando maluca Nada faz muito sentido e eu não consigo entender nada direito Eu queria morrer mas não queria tá passando por isso Eu olho pra Dandara e não consigo Tudo na minha frente parece uma ilusão Eu não sei mais o que é certo ou não

Eu tô me sentindo muito fraca Muito pequena

Medíocre, uma farsa.

Eu gosto do que tenho aqui. Me preocupa o que sou, mas gosto do que tenho aqui, agora.

Dei um 2 e me sinto mais leve um pouco. Tava sendo difícil hoje.

Parando pra pensar, desde que eu era muito nova eu sempre gostei de escrever. Eu nunca tinha me ligado nisso, não via tanto a profundidade e as possibilidades que podem vir disso, mas agora resolvi ver. E é estranho, a única coisa que sempre me acompanhou além da fotografia desde muito nova, é a escrita. Eu comecei a escrever acho que com 12 anos, ou menos. A fotografar foi por aí também. Talvez com o aumento do uso da internet nessa idade, eu tinha flogão e uma cybershot. Uma pré-adolescente sem muito o que fazer. Eu tinha um computador, uma cybershot, acesso a internet e um flogão. Com uma certa facilidade. Eu era um pouco privilegiada nessa época. Um pouco só, mesmo. Eu postava fotos minhas que tirava com a cybershot, escrevia um negocinho na legenda e era isso. Daí veio o orkut. E os animes. A puberdade. Eu escrevia fanfic de naruto, fanfics eróticas também. Eu já devia ter uns 14/15 anos nessa época. Depois eu só passei a ter documentos de word aleatórios salvos no meu computador, que eram literalmente pensamentos ou qualquer coisa aleatória que eu escrevia e gostava de guardar. O celular. As fotos no espelho, o aplicativo de notas. Depois veio o tumblr. Imagens, textos, sentimentos, fotografia. As notas sempre altas em redação, apesar de quase todo o resto serem baixas demais. A compra da câmera. O meu início na vida adulta. Cadernos. Uma viagem. Uma bolsa de estudos em fotografia. Mais cadernos, diários. Estudos. Descoberta como artista, autorretrato e textos. Um emprego como fotógrafa. Um blog.

Além da fotografia, a escrita também sempre andou comigo. Uau.

Ela é do tipo de pessoa que fica feliz quando você falha, espera que você falhe, pra daí ela poder provar um ponto. Ela não ensina ou incentiva, ela aponta todos os seus erros, mostra que ela consegue fazer, e te acusa de inútil/incapaz. Ela interrompe todos os seus processos e não te deixa evoluir porque não tem paciência. Ela faz de tudo pra você acreditar que ela tá sempre certa. Ela não te deixa falar, não escuta, grita e interrompe sempre que você quer dizer alguma coisa. Ela ajuda, mas só pra jogar na sua cara depois que ela fez POR VOCÊ

“Você dá mais valor pro seu trabalho do que pra sua filha”

Minha mãe acabou de gritar isso pra mim. Do nada, só porque falei que ia pra psicóloga antes de ir no centro do Rio resolver uma coisa importante.

Lembrei de quando ela disse que sou uma péssima mãe.

Essas não são verdades. Porém doem bastante.

Eu odeio a maternidade. Eu tenho depressão e ansiedade. Talvez algo mais. Eu amo minha filha e faço tudo e mais um pouco por ela. Eu vivo na culpa, porque tenho a cobrança de ser perfeita como pessoa e mãe dentro de casa. Sendo que ser perfeita como mãe pra ela é totalmente diferente da minha percepção disso.

Queria gritar e fugir

Por que sempre parece que eu tô me esforçando demais pra agradar alguém que não tá nem aí pra qualquer coisa que eu faça e/ou meus processos?