Homem gosta é de homem
Quando criança eu sempre ouvia do meu pai:
- “Homem que é homem não acha outro homem bonito!”
- “Homem que é homem gosta de mulher!”
- “Quem gosta de homem é viado!”
A definição de homem explicada por ele era bem simplista: Ter um pinto, comer mulher e não olhar pra outro homem. Olhar pra um pinto? Nem pensar! Homem não olha pro pinto nem na hora de mijar. Por isso que hoje, só faço xixi sentado.
Quando tinha uns sete anos, morava no Brasil, em uma cidade do interior que não tinha nem um shopping. Atrás de casa havia um terreno baldio, onde a gurizada mais velha jogava bola enquanto nós, os mais novos, ficávamos fazendo coisas de crianças. Um vizinho de muro me propôs: Vamos fazer sexo? A gente abaixa as calças e esfrega um pinto no outro. Pulei o muro de casa tão rápido quando pude, com o coração disparado e rosto tão corado que nem a pele queimada pelo sol do norte do estado de São Paulo poderia esconder.
Não contei pra ninguém. Imagina? Meu pai saber disso? Eu olhando pro pinto de outro menino? Que isso!? Sou homem, tenho que dar orgulho pro coroa.
Cresci e fui me distanciando dessas narrativa que a parte masculina da família pregava e isso os preocupou demais. Meu velho e meus irmãos queriam me levar pra perder a virgindade com prostitutas colombianas que trabalhavam em Yokohama. Eu desconversei e não aceitei. Tinha preocupações maiores nessa época: tentar encontrar o Yoshi em cima do castelo no Mario 64. E não me sentia adulto suficiente, já que não tinha conseguido zerar Metroid 2. Não que até hoje tenha conseguido.
Cresci mais um pouco, via amigos indo pra balada e beijando meninas. Sexo, drogas e pegação. Eu havia transado e meus amigos nem me perguntavam sobre meninas, com cara de nerd creio era óbvio minha virgindade. Ou talvez também fossem e não sabiam falar sobre. Passaram-se alguns anos e eu comecei a namorar escondido, por isso muitos amigos menos chegados achavam que eu era gay, ou boca virgem, até pelo menos meus dezenove anos.
O tempo passou e chegamos a era da informação. Facebook, Twitter, notícias em tempo real. Bolsonaro, Malafaia, Alexandre Frota. Sério mesmo que esses são os exemplos de homem que temos? Mas se formos pensar bem, não muda muito de Rambo e Charles Bronson. Só faltam os muscúlos e pelos no peito.
Quando anunciaram o filme Guerra na Estrelas: O despertar da força. Eu nem liguei, nunca gostei tanto da saga. Mas o que me chamou atenção foi o tanto de homens reclamando que “o herói” na verdade era “a heroína”. Logo depois veio Mad Max e vi homens querendo boicotar o filme novamente porque era “a” e não “o”.
Quem gosta de homem é viado!
Lembrei do meu pai me dizendo rindo e assando uma carne.
Talvez eu seja gay também, afinal gosto de tantos caras por ai. Atores, músicos, cientistas, comediantes... Ou não, afinal também gosto de atrizes, música, cientistas, comediantes. Quem em sã consciência pode não achar Idris Elba bonito? Ou não se encantar com o Elliot Page?
Mas tem cada homem por aí que chora ao tirar uma figura masculina da frente deles. Fico imaginando meu pai dizendo “Bando de viados, gostam de ficar olhando macho”.
Ou não, né? Afinal, ele gastava as tardes vendo vinte homens, de shorts correndo de um lado para o outro em gramado verde enquanto o sol crepuscular reluzia na pele suada destacando as pernas tonificadas.
Poxa... será que meu pai era gay?