Eu, mulher negra, e a solidão

Revendo a minha vida amorosa, reparei que os casos mais significativos que tive foram com pessoas que conheci na internet e a grande maioria são homens brancos. O último que fiquei, antes de conhecer meu atual namorado, é mais um dessa lista. Finalmente parecia ser alguém diferente, que me amaria e valorizaria. Ele, por livre e espontânea vontade, falava coisas como o quanto eu era legal, especial e que estava gostando de mim. Me levou para conhecer os amigos e disse o quanto ficou feliz de eu ter me dado bem com eles. Três meses ficando e então veio um fator que sempre esteve presente na minha vida: ele não estava preparado para assumir algo sério.

Recém saído de um relacionamento de 7 anos, não queria assumir nada. Mesmo decepcionada com isso continuamos a ficar, mas o serviço dele e a vida familiar começaram a ser um empecilho. Sempre que marcamos de sair acontecia algum fato e ele tinha que desmarcar. Um dia morreu a vizinha muito querida, no outro ficou até tarde no serviço, no outro foi resolver um assunto antigo de família com a mãe. E, assim, eu fui ficando puta, ansiosa e triste.

Mais uma vez me perguntando o que tinha de errado comigo. Mais uma vez tentando entender onde errei. Será que era o meu corpo? Os assuntos que tratava? Piadas que fazia? Não conseguia ver nada de errado, mas não deixava de pensar nessas coisas. Até que um dia eu mandei uma mensagem aleatória e ele não respondeu. No outro dia, mandei outra mensagem, enorme, falando o quanto estava difícil para mim e que se ele não me queria mais era melhor falar. Mas ele continuou enrolando, falava que não tinha nada de errado, que eu precisava ser mais compreensiva e coisa e tal. Eu decidi “terminar”. Um mês depois ele postou uma foto com a nova namorada, branca. O fator cor da pele nunca passou pela minha cabeça, até muito recentemente.

Nunca imaginei que esses caras brancos poderiam me ver somente como um objeto, uma coisa a ser descartada após o uso, por mais que esse sentimento reinasse em mim por um tempo. Passei minha vida inserida em círculos de gente branca e me sentia próxima a elas o suficiente para ignorar meus sentimentos de não pertencimento. Achava que era coisa da minha cabeça. Pensava que a culpa era do fato de ser mais introvertida, falar pouco. Mas algo na minha desastrosa vida amorosa não batia. E agora eu sei o que é. Não posso dizer o quanto as coisas seriam diferentes se eu entendesse antes que poderia não ser a escolhida para “relacionamento sério” só por causa da cor da minha pele.