Influencers, Instagram e a Sociedade do Espetáculo

Guy Debord, um marxista francês com uma visão de mundo bem pessimista, escreveu uma vez sobre o que ele chama de “sociedade do espetáculo”. Para ele, “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens” (Debord, 2005, p. 9). Ou seja, seguindo a lógica do Instagram, a relação entre influencers e seguidores é uma mera representação, que se torna somente de aparência.

Para ele, a medida que o espectador vai se aproximando de um objeto que admira e quanto mais tenta se parecer com esse objeto, menos ele vive e mais distante de sua própria existência ele fica. Nas palavra dele: “os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhes apresenta. Eis porque o espectador não se sente em casa em nenhum lado, porque o espectáculo está em toda a parte.” (Debord, 2005, p. 19).

Podemos dizer que o espectador é o influenciado/seguidor que assiste a este espetáculo que é conduzido pelas influencers com o auxílio do Instagram. Quanto mais este seguidor fica alienado, mais o sistema capitalista é alimentado, já que o sistema molda o seguidor tornando-o um consumidor em potencial. E, também, o espetáculo vende uma ideia de felicidade para fazer o seguidor alcançar, não passando de uma ilusão, na tentativa de vender mais.

Seguindo essa lógica de Debord, podemos observar que essas influenciadoras geram uma necessidade em nós de encaixarmos num padrão de vida irreal. Vendem a ideia de que é possível ser feliz comprando coisas, tudo isso através de imagens. Assistimos a este espetáculo, distanciando cada vez mais de nossa essência e deixando na mão do outro nossas vontades.

No Instagram, através dos likes, medimos o nosso nível de importância e o quanto falta para chegar perto da felicidade. A função das influencers e do próprio Instagram é gerar demanda para a venda de mercadorias, padronizando nossos gostos e gerando estilos prontos, seja de vestir, comer e até mesmo de se relacionar.

Como as relações sociais estão cada dia mais virtuais, as influencers expõem suas vidas de forma online, transformando-as num grande espetáculo e os seguidores tentam copiá-las como forma de serem aceitos e bem vistos na sociedade.

Podemos pensar como o Instagram e outras mídias sociais são um espaço de auto expressão e liberdade mas, grande parte de seu conteúdo está ligado à um monólogo de influência. Com as quais, por meio da expetacularização da imagem, produzem conteúdos atraentes e com o objetivo de influenciar nas preferências de consumo dos usuários.

A autenticidade no Instagram deixou de existir. São controladas pelo viés comercial através do financiamento de grandes empresas. Então, a diversidade é anulada em prol do capitalismo, em favor de uma auto imagem padronizada e, na grande maioria dos casos, inalcançável.

Qualquer tentativa de auto expressão nas mídias sociais cai no espetáculo, ou seja, uma tentativa de reprodução do que você segue, não tem autenticidade e tudo se tornou meras imagens. Não tem pra onde fugir porque, como ele mesmo diz, “o espetáculo está em toda parte”.

Mas o que fazer se não tem pra onde fugir? Tomando consciência do funcionamento da estrutura publicitária e seus operadores é um passo necessário para o autoconhecimento e construção de identidades reais. O uso de redes descentralizadas também é um bom começo!

REFERÊNCIAS:

Baseado no resumo expandido Consumo, Moda e Identidade: Estudo sobre as influências no Instagram, escrito por Gabriela Gonçalves de Aguiar e Glauciene de Oliveira.

DEBORD, Guy, A Sociedade do Espetáculo. Lisboa: Edições Antipáticas, 2005.